Olho um pássaro preto de bico amarelo.
Está à sombra de uma árvore . Não sente solidão, não sente o limite de um horizonte que se aproxima à medida que o tempo passa. Ele vive a sua vida com tranquilidade, sem pressa, sem pressentir a sua finitude. Invejo-o. Ele tem o que tem e não sente falta de nada.
...Numa era de sacrifícios mal contabilizados pela carnificina mental dos prebostes do europeísmo de salão, ainda há espaço para elucubrações de baixo nível. O preço a pagar pelo predomínio da mediocridade é demasiado alto.
Olho o pássaro... Sei algumas coisas. Já li muitos livros. Conheço muita gente que me ensina muitas coisas. Conheci pessoas, muitas, que já partiram e que me ensinaram muito do que sei.
E tenho junto a mim, dentro de mim, muitos afectos.
E amigos. Tenho alguns bons amigos. Os suficientes.
Gostaria de poder ficar uma tarde inteira a olhar para um poema, em silêncio, imóvel, apenas ficar a olhar um poema e o passarinho de bico amarelo, porque de "corjas", já me bastam e num piscar de olhos sou traída pela comoção, fico terna , delicada.