terça-feira, 17 de setembro de 2013

Alguma coisa acontece no quando agora em mim....não percebo qual a diferença entre morrer com uma arma química, um tiro de metralhadora, um míssil, uma martelada na cabeça, veneno para os ratos, uma catana, ou a ouvir um discurso dos "verdadeiros artistas".

Ninguém pode viver as minhas dores. São minhas, nasceram-me dentro da alma, perdidas entre um músculo e um suspiro, uma dúvida e uma pertença, o medo e a calma. Trato-as portanto com carinho, abano-as no meu colo quente e segredo-lhes dizeres ao ouvido, embalo-as rente à noite e adormeço-as com o cuidado devido para que não sobressaltem inquietas, com os ventos soturnos de Outono. Poderia espantá-la, tentar distraí-la, mas oiço-a com tempo e paciência, escuto-lhe as razões, percebo-lhe os fundamentos e os anseios, espreito-a por dentro e por fora, arrumo-a em mim.
Hoje, por exemplo, dói-me o meu naco de mãe. Para além de outros, também. 

Esta indignação a respeito dos ataques com armas químicas na Síria? Não, não sou um entusiasta das armas químicas. Direi mesmo que em termos militares não sou entusiasta de coisa nenhuma.
Apenas não percebo qual a diferença entre morrer com uma arma química, um tiro de metralhadora, um míssil, uma martelada na cabeça, veneno para os ratos, uma catana, ou a ouvir um discurso dos "verdadeiros artistas". Daí a indignação fazer-me lembrar estes versos do tempo da guerra civil espanhola: "Na noite em que a mataram/ Rosita teve muita sorte/ Das três balas que apanhou/ Só uma é que foi mortal" . 
Provavelmente pensarão que centenas de pessoas mortas com um míssil, marteladas na cabeça ou veneno para os ratos terão mais sorte do que outras mortas com armas químicas, sei lá, como se estas matassem mais do que as outras ou a morte destas fosse mais dramática do que a morte das outras.