segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Eugénio de Andrade: um poeta maior!!!






Sou de há muito admiradora amantíssima de Eugénio de Andrade. Gosto de o ler, gosto de o ouvir.

Fisicamente há nele qualquer coisa de um Jorge Luis Borges, acho-os muito parecidos e, no jeito de falar, também: um lado de quem não vê o mundo como ele é, de quem sonha o mundo tal como o viu no tempo em que a inocência o mostrava limpo, branco.


A sua poesia traz a saudade da sua mãe, das mãos da sua mãe, e traz a elegia dos corpos desejáveis dos rapazes, dos rapazes correndo na praia ou no campo como animais, como cavalos jovens, o sexo elevando-se como uma haste, e traz a pureza de uma sombra de verão caindo lisa sobre uma parede caiada, e traz o perfume das maçãs dispostas sobre as mesas, a simplicidade das coisas verdadeiras. 

As palavras como gotas de música, como um olhar límpido, como o desejo que nasce puro e etéreo.



Não voltarei à fonte dos teus flancos 

ao fogo espesso do verão 
a escorrer infatigável 
dos espelhos, não voltarei. 

Não voltarei ao leito breve 
onde quebrámos uma a uma 
todas as frágeis 
hastes do amor. 

Eis o outono: cresce a prumo. 
Anoitecidas águas 
em febre em fúria em fogo 
arrastam-me para o fundo




Entre a folha branca e o gume do olhar 

a boca envelhece 

Sobre a palavra 
a noite aproxima-se da chama 

Assim se morre dizias tu 
Assim se morre dizia o vento acariciando-te a cintura 

Na porosa fronteira do silêncio 
a mão ilumina a terra inacabada 

Interminavelmente