quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Olho-me para o espelho sem delongas..."O correr da vida embrulha tudo, sossega depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem".

A manhã despertou de uma noite escondida no fundo do armário das vontades, atada a fitinhas de seda que me emprestam doçura às mãos. Persigo as horas que fogem de um lado e tardam do outro, e de seguida espreito algures uma ardósia que pergunta que idade eu teria se não soubesse a que tinha. Depende, apeteceu-me responder. Tenho muitos anos logo de manhã cedo, quando acordo e quando afago, quando desperto para a vida e para a morte, quando tenho de cumprir o rigor dos dias que nascem quando eu queria que ainda estivessem apagados, nem que fosse só por mais uns minutinhos. Tenho poucos quando as vontades me dão cabo do coração descompassado, com idade suficiente para já ser crescida e ter juizinho. Tenho poucos, pouquíssimos, quando me encosto à ternura dos dez e me deixo estar ao lado dela, enquanto desfaço a boneca de trapos.  Tenho alguns quando imagino o sobrinho (neto) que me nasce não tardará muitas luas. O  Outono é sempre bom para vir ao mundo, dias pequenos e frescos, sem excessos de claridade. A propósito, gosto do Outono, muita da minha vida começou no Outono: tropeço numa linda rapariga de olhos doces... e num belo rapaz de olhos verdes, que me fazem lembrar as quantas primaveras tenho! Olho-me para o espelho sem delongas...