terça-feira, 8 de outubro de 2013

As palavras... (Ah, paroles, paroles, paroles... caro Eugénio. Já nada é como dantes, quando as palavras queriam dizer aquilo que queríamos mesmo dizer, não é?)...

Agora as Palavras 
Obedecem-me agora muito menos
agora as palavras. A propósito
de nada resmungam, não fazem
caso do que lhes digo,
não respeitam a minha idade.
Provavelmente fartaram-se da rédea,
não me perdoam
a mão rigorosa, a indiferença
pelo fogo-de-artifício.
Eu gosto delas, nunca tive outra
paixão, e elas durante muitos anos
também gostaram de mim: dançavam
à minha roda quando as encontrava.
Com elas fazia o lume,
sustentava os meus dias, mas agora
estão ariscas, escapam-se por entre
as mãos, arreganham os dentes
se tento retê-las. Ou será que
já só procuro as mais encabritadas?
(Eugénio de Andrade)


 Agora os que nos governam escondem-se atrás delas com mil intenções, algumas indizíveis, de tal modo que procuram construções esquisitas para nos baralharem. Sabe, meu caro, o que quer dizer condição de recursos? Pois. E pensava o meu amigo que tinha um problema... Pode crer que as suas Palavras são, e continuarão a ser, ouro do mais puro quilate.