sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Mulheres perfeitas. (Guardiã da Tradição)...

Muito de vez em quando, ainda tenho a felicidade de tropeçar numa legítima representante da minha noção de mulher perfeita. Ou antes, da noção algo tradicional de mulher quase perfeita (vulgo senhora) que me foi incutida.
Fico contente quando encontro uma Guardiã da Tradição. A Guardiã da Tradição pode ser idosa ou novíssima, rica ou remediada, mas é essencialmente muito bem educada. É preciso ser-se especial para beirar a perfeição sem ceder à amargura.
Caminham sempre direitas, com um porte impecável, ainda que lhes doam os pés. Jamais demonstram em público quando estão magoadas, cansadas ou tristes. Guardam as suas expansões, por maiores que sejam, para a intimidade, porque uma senhora é uma senhora em todas as ocasiões.
O seu cabelo é sempre brilhante, o seu visual é sempre de qualidade, requintado e discreto. Mais do que beleza, possuem elegância, bom ar, graça. São razoavelmente cultas mas não o exibem, porque ninguém gosta de uma maria sabichona.
Por muito bonita que seja uma Guardiã da Tradição, as outras mulheres não se sentem ameaçadas por ela: antes, ela fá-las sentir mais novas, ou mais bem vestidas, ou mais belas, porque consegue melhor que ninguém dar elogios sinceros, sorrir com os olhos e dizer o que as pessoas gostariam (ou precisam) de ouvir sem peçonha nem falsidade. Reagem à adversidade, à mudança indesejada, com a graciosidade que só pode ser possuída por quem sabe que neste mundo, tudo nos é emprestado. E por isso são serenas. E continuam belas, ou se não belas encantadoras, mau grado o passar dos anos.
Mulheres assim são tão difíceis de encontrar, hoje em dia, como um homem honesto.
E quando me cruzo com uma, tiro-lhe o meu chapéu. Ou tiraria, se fosse homem e os tempos, outros.

Michelle Torrez