E assim é a vida: um caminhar de um momento de redenção para outro.
E talvez eu tenha de procurar muitas vezes a minha redenção
num bom pedaço de prosa, numa escultura, numa música, numa pintura, na singularidade da ... ARTE - que é meio caminho para fazer a travessia por este mundo com um mínimo de sanidade.
"...
Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predileta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer coisa natural —
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.
..."
(Alberto Caeiro)
Ou então, desgraça mais grave, acabamos por reduzi-la a simples prazer estético ou auxiliar da cultura. Tudo isso é bem conhecido. É um futuro já presente.
No mundo da técnica, podemos continuar a enaltecer os escritores e a enriquecer os pintores, podemos prestar honras aos livros e enaltecer as bibliotecas; podemos reservar à arte um lugar porque é útil ou porque é inútil. (...)
Aparentemente, a arte não é nada se não for soberana."